Pesquisa feita pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), em junho do ano passado, mostrou que oito em cada dez funcionários de bancos apontam o assédio moral como o maior problema que enfrentam no ambiente de trabalho. Para a grande maioria, o combate aos abusos dos chefes é a ação mais importante a ser promovida por empresas e sindicatos. Dados como esse dão conta da importância do acordo firmado na semana passada entre Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) e Federação Nacional de Bancos (Fenaban). O compromisso prevê a criação de um canal de comunicação entre sindicatos de bancários e bancos para que qualquer tipo conflitos entre funcionários e chefes, inclusive os assédios, possam ter a solução acompanhada pelas entidades de classe.
O acordo abre um canal para denúncias de abusos ocorridos dentro do ambiente de trabalho. Os bancários poderão fazer os relatos de assédio moral ao sindicato, que manterá em sigilo a identidade do denunciante. O sindicato terá prazo de dez dias úteis para apresentar a denúncia ao banco. Após receber a reclamação, a instituição financeira terá dois meses para apurar o caso e prestar esclarecimentos ao sindicato.
É verdade que a questão do assédio moral é mais perceptível nos bancos, mas as denúncias de assédio que chegam à Justiça têm aumentado ano a ano e partem de trabalhadores de todos os setores da economia, não só o financeiro. Por isso mesmo o que se esperar é que o acordo entre bancos e bancários estimule a discussão do assunto e, por consequência, a redução dos casos de assédio.
E para que haja redução é preciso que as vítimas apresentem suas queixas e exijam reparação e principalmente deixem de achar normais circunstâncias caracterizadoras do assédio moral e de entendê-las como gozações, "broncas" de chefes, respeito distorcido aos superiores. Brincadeiras como o jargão “manda quem pode, e obedece quem tem juízo"? Ou observações acerca das divergências e/ou diferenças de posicionamento e preferências pessoais ou profissionais de colegas da mesma posição ou de chefe/subalterno são formas de assédio que as pessoas simplesmente deixam passar por medo de serem demitidos ou mesmo para evitarem constrangimentos.
O que se vê é que na maioria das empresas, as pessoas convivem com assédio moral mesmo considerando “certas brincadeiras” como forma de ofensa, menosprezo, constrangimento ou humilhação, continuavam desenvolvendo suas atribuições e responsabilidades e, quando muito, comentavam ou desabafavam com familiares, amigos e/ou pessoas de sua confiança.
Para combater o assédio moral no trabalho, é preciso, antes de tudo, saber quando as chamadas “brincadeiras de mau-gosto” caracterizam violência moral. Isso acontece quando trabalhadores e trabalhadoras são submetidos a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado. São ações que na maioria das vezes destabilizam a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização.
O mundo capitalista, onde a competitividade é incentivada em todos os níveis e contextos dentro das organizações contribui para ações, atitudes e comportamentos que agridem e degradam as relações humanas. O assédio moral é um ato de violência ao ser humano e deve ser coibido de todas as formas, pois muitas vezes finge-se não vê-lo ou tolera-se determinados comportamentos que o encorajam. Por isso, todas as empresas sérias e responsáveis, independentemente do porte, devem estar atentas ao problema e podem implantar ações de prevenção como conscientizar seus colaboradores sobre o que é o assédio moral; desenvolver formas mais estruturadas de organização do trabalho e rever seus métodos de gestão das pessoas e mesmo dispor de canais de comunicação mais abertos e incentivando políticas de qualidade de vida, além de treinar e preparar pessoal de comando dentro de práticas de gestão que incentivem a educação, confiança, cooperação e respeito humano, de forma que sejam exemplos para todos os colaboradores;
O assédio moral deve ser repudiado, pois além dos males que representa para as organizações, repercute também na sociedade, atingindo questões familiares e questões que invadem o campo da saúde pública com o aumento de doentes físicos e mentais. Todos são responsáveis: patrões, dirigentes, executivos, gerentes, supervisores, chefes ou simples funcionários. Cada um dentro de seu campo de atuação não pode se eximir e se calar.